Estudantes organizam ato contra racismo em universidade de MG
Projeto na UFJF foi inspirado na campanha americana “I, Too, Am Harvard”.
Mobilização nacional acontece nesta quarta-feira (13).
Um grupo de estudantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) vai realizar um ato contra o racismo nesta quarta-feira (13). A campanha "Ah, branco, dá um tempo" vai direto ao ponto e exige que questões de raça e cor sejam discutidas e difundidas, não só no ambiente acadêmico, mas em toda a sociedade. Em nota ao G1, a UFJF informou que está atenta à campanha e apoia o movimento dos alunos.
O projeto foi inspirado na campanha “I, Too, Am Harvard”, da Universidade de Harvard. Nos Estados Unidos, as manifestações ganharam proporção e resultaram em uma conferência, que aconteceu em outubro de 2014. Já em 2015, foi abrasileirado, primeiramente, na Universidade de Brasília (UnB).
A ideia é simples e tem se mostrado efetiva. As pessoas devem escrever em uma folha de papel a expressão que está cansada de ouvir e postar nas redes sociais com as hashtags da campanha.
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O grupo já realizou duas sessões de fotos no campus da UFJF, que acumulam dezenas de pessoas indignadas com mensagens corriqueiras. Agora, os estudantes se preparam para a grande representação nacional, nesta quarta-feira (13).
A fotógrafa Paula Duarte, uma das organizadoras, explicou como surgiu a ideia de adaptação. “Uma amiga viu a repercussão que deu na UnB e me chamou pra fazer aqui na cidade. Começamos a convidar algumas pessoas e já temos um coletivo com cerca de 30 organizadores”, contou.
Para ela, o movimento ganhou repercussão dentro da UFJF, justamente por retratar casos que são considerados comuns aos negros. “No início, convidamos algumas pessoas conhecidas, que foram chamando outros amigos e o movimento cresceu. A ideia colou pelo sentimento que todos tinham em comum. São frases que escutamos no dia a dia e que são consideradas normais, mas incomodam”, afirmou.
Paula disse ainda que os estudantes não procuraram apoio das faculdades, mas mesmo assim alguns professores e funcionários se dispuseram a participar. Para ela, a informação é essencial para derrotar o preconceito. “Em termos de sociedade, temos um despreparo muito grande para tratar qualquer questão relativa à raça e isso também acontece no ambiente universitário”, concluiu.
A estudante Demaísa Alves, de 22 anos, luta pela implementação na UFJF do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, como manda a Lei 10639/03, de janeiro de 2003. O Ministério da Educação (MEC) criou, em 2004, uma resolução que institui diretrizes para a criação das disciplinas. Mais tarde, em 2009, lançou um plano para obrigar o ensino de história da Áfricae, desde então, vem cobrando dos cursos medidas de adaptação curricular.
Alves acredita que o debate já deveria ter sido criado, mas garante que estão fortes na legitimação. “Criamos o movimento para debater e auxiliar nessas mudanças de currículo, já que a lei tem mais de 10 anos, conta como critério de avaliação de curso e a maioria das pessoas nunca ouviu falar dela”, contou.
Há cerca de quatro semanas, o curso de Medicina da UFJF decidiu puxar a fila e reformular seu projeto pedagógico. Isso aconteceu depois de um estudante procurar a coordenação para questionar sobre o andamento da adaptação da lei, como já tinha feito um ano antes. A coordenadora o convidou, então, para auxiliar na construção do novo texto, incluindo as disciplinas propostas pelo MEC. “Tivemos essa movimentação no curso de Medicina, o que já ajuda a puxar para os outros cursos da área de Saúde. A partir daí, queremos levar a discussão para todas as unidades da universidade”, explicou a estudante.
Para Alves, a comunidade como um todo tem estranhado a repercussão atual sobre as questões sociais porque ainda vive em uma sociedade que acredita numa democracia racial que, segundo a estudante, não existe. “O fato da UFJF ter se manifestado em rede social pode nos fazer ganhar mais apoio e divulgar nossa ideia, que é a de construir, junto com a comunidade, um debate que muitas pessoas não querem, mas que é extremamente necessário. Só através da educação nós podemos mudar a realidade atual e construir relações mais justas”, finalizou.
A UFJF enviou nota ao G1 em que diz estar ciente da infeliz realidade de casos de racismo em ambientes acadêmicos. Para reverter este quadro, a universidade desenvolve políticas de ações afirmativas e inclusão, garantindo direitos iguais a grupos sociais que foram excluídos dos processos de desenvolvimento social, educacional, cultural, político e econômico do país. A instituição também afirmou que está atenta à campanha dos estudantes e apoia o movimento dos alunos.
Sobre a adesão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a universidade disse que tem trabalhado em várias frentes, inclusive com a revisão de grades curriculares para a inclusão de matérias sobre cultura afro-brasileira, africana e indígena. Além disso, realiza campanha com instalação de banners em toda a instituição sobre ‘Intelectuais Negros/as: raízes de sabedoria e transformação’, conforme a nota.
Na noite da última quinta-feira (7), a UFJF já tinha tornado público seu posicionamento, ao publicar em sua página oficial no Facebook, uma foto da diretora de Ações Afirmativas da intuição, Carolina dos Santos Bezerra Perez, aderindo à campanha. A criação da Diretoria de Ações Afirmativas é uma das iniciativas citadas pela UFJF e tem como objetivo articular os diferentes órgãos da universidade, adotando estratégias e fomentando processos de conscientização da comunidade acadêmica. Como resultado, a diretoria espera diminuir o racismo, o preconceito e a discriminação.
Quem quiser participar do movimento “Ah, branco, dá um tempo” deve escrever em um cartaz as frases que mais o incomodam no âmbito da discussão racial, tirar uma fotografia e postá-la nas redes sociais com as hashtags #AhBrancoDaUmTempo e #13deMaio. Esta data não foi escolhida aleatoriamente. Em 13 de maio é lembrado o Dia da Abolição da Escravatura, quando, em 1888, a Lei Áurea foi assinada pela princesa Isabel para extinguir a escravidão no país.
Em Juiz de Fora, os estudantes vão se reunir em frente ao Restaurante Universitário, no campus da UFJF, a partir das 11h. No local, vão confeccionar novos cartazes e se manifestarem. Para obter outras informações, os interessados devem acessar o tumblr do projeto na cidade ouconfirmar presença no evento e participar das discussões.
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